ANA SABIÁ
"Nossas atitudes, nossa pretensa importância de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo isso é posto em dúvida por esse ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos. (…)” Carl Sagan.
A pandemia da Covid-19 novamente nos demonstra o quanto somos frágeis como vida terrestre e que esta só é possível a partir de um complexo e delicado equilíbrio entre todas as espécies.
Ao defrontar nosso planeta pelo olhar espacial, a vertigem das luzes me fascina: a eletricidade, outra grande descoberta humana, desenha milhares de faíscas reluzentes indicando a urbanização terrena. E nessa inversão inesperada, na qual fantasiamos desenhos, não nas nuvens mas no solo, nos percebemos estrelas, ou melhor, poeira de estrelas.
As conexões virtuais, como alternativa sócio-econômica mais segura no enfrentamento ao contágio, multiplicaram-se assim como seu evidente contrário em rupturas e fragmentações de toda ordem. Como nos reconstruir coletivamente como vida após um evento tão catastrófico?
Para dar vazão à utopia, arquiteto uma re-organização geopolítica, a partir das fotos noturnas do planeta Terra feitas pela Nasa. Crio “manchas de Rorschach” para imaginar alternativas de colaboração, encontros, compartilhamentos, re-territorialização…
O planeta visto assim assemelha-se de fato a um monstruoso vírus solto no imenso espaço.
Ou ainda, novas constelações a serem renomeadas.
Ana Sabiá, 2021