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AS DUAS SABIáS, 2024

AS duas Sabiás, 2024

A série faz homenagem à celebrada cena pictórica ‘As duas Fridas' (1939), obra da artista mexicana Frida Kahlo, pintora que transformou-se, ao longos das décadas, em fetiche da história e ícone feminista nos circuitos artísticos.


Kahlo, a partir de seus autorretratos, lança seu olhar sobre si e sobre nós desafiando-nos em seus enigmas. ‘As duas Fridas', o mistério duplicado das mulheres, incita à complexidade dos jogos fotográficos do contemporâneo: o autorretrato como fabulação identitária, a provocação quanto aos limites do corpo, a criação de múltiplas histórias, memórias e subjetividade, entre outras questões biográficas, filosóficas e políticas (em 1989, os artistas chilenos Pedro Lemebel e Francisco Casas re-encenaram essa pintura, interpelando desde a ditadura à afirmação dos movimentos gay no Chile).


A obra de Frida é referência na minha trajetória poética há 25 anos. Reencontrá-la e celebrá-la neste trabalho é reafirmar e atualizar aquilo que em mim afeta a partir de suas simbologias visuais e sua biografia humana e política. 


Nesse percurso artístico de mais de duas décadas, as paixões, a maternidade, a crise conjugal, o amor, a utopia, o sexo, a morte, a maturidade, o desejo, os sonhos, tornaram-se minhas realizações a partir de vivências, renúncias e escolhas. A maternidade e a maternagem, através de uma perspectiva política, vêm sendo campo de pesquisa poética desde o nascimento do meu filho, em 2011; assim como refletir sobre minha mãe como sujeito e o nosso processo mulheril de amadurecimento e envelhecimento.


A visita em sua casa no final de 2023, enquanto se dava a reabilitação da saúde do meu pai em decorrência de sua cirurgia cardíaca, me despertou com a fragilidade dos corpos, dos ânimos, dos objetos, dos lugares: o fenecimento das plantas, a decadência da casa, dos objetos e dos meus lugares recônditos; a consciência da invisibilidade do trabalho de cuidado que sustenta uma pessoa, uma casa, um jardim, a vida como um todo na escala íntima e social. De volta ao lar, o convite se dá ao meu filho, com os desafios no aprendizado na entrada de sua adolescência.


O tableau vivant está operando: as duas Sabiás dão-se as mãos em aliança e apoio; matrioskas em metamorfoses que confortam e confrontam. Eu-filha, corpo hóspede. Eu-mãe, corpo casa.

fotografia autoral • arte

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