O sonhário da Srª. M.N., 2022

 

Análogo aos sonhos - inspiração dos surrealistas - nos quais as imagens se diluem, deformam, dissipam e se transfiguram, a série "O sonhário da Srª. M.N." revela-se múltipla em suas camadas. Sonhário, à semelhança do diário, é um livro pessoal no qual escreve-se sonhos sonhados, em busca de capturar seus símbolos e metáforas para, posteriormente, decifrá-los como oráculos da própria existência e afetos. 

A Srª M.N. (iniciais do nome Maria Ninguém), mulher anônima, brasileira, “mistura de dor e alegria”- é a escritora deste sonhário. As iniciais anônimas se fazem - além da clara referência da personagem G.H., de Clarice Lispector, em suas epifanias catárticas e devaneios psicanalíticos - na atemporal Maria Maria, de Milton Nascimento.

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O oceano, explícito nos filmes oníricos de Federico Fellini, é o palco simbólico do mergulho, do movimento, da correnteza, da vastidão e do abissal que nos habita. 

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Neste universo infindo, misturados, sobrepostos, fragmentados e reunidos, encontramos referências imagéticas que se entrecruzam, amalgamam, diferenciam e tecem: as sonhadoras, divertidas e críticas fotomontagens de Grete Stern com o panorama histórico-cultural do “Oráculo da Noite” do neurocientista Sidarta Ribeiro; alguns dos relatos de sonhos em tempos pandêmicos de milhares de pessoas ao redor do mundo, coletados no site “I dream of covid”; com as enigmáticas fabulações documental-fictícias similares aquelas caligrafadas nas incríveis fotos de Duane Michals. 

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A escritura n’O sonhário da Srª. M.N., como diria a majestosa Conceição Evaristo, é sua escrevivência, seu mergulho e afogamento diários. Sua bóia de salvação na concreta vigília.
 

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fotografia autoral • arte

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